Quero, inicialmente, agradecer ao espaço cedido pela Rádio Ibaté FM 87,9 para aqui desenvolver um diálogo inter-racial sobre uma mazela latente em nossa sociedade: o racismo, um veneno do mundo que mata diariamente. Eu sou Flávio Eduardo Felipe Junior, estudante de Serviço Social e empreendedor social com o projeto nomeado “Nós Pretos”, que tem a intenção de trabalhar o Letramento Racial para o combate ao racismo de forma não violenta e didática.

Muito provavelmente, você já se deparou com o termo racismo em algum momento da sua vida! Porém, se eu perguntar para você: você é racista? Muito provavelmente você me dirá que não, porque até tem amigos negros, que todos são iguais independentes da sua cor, já namorou alguém que era negro ou porque seus pais ou avós eram negros. Mas, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) retratam que, em nosso país onde mais de 55,5% da população se autodeclara Negra (lembrando que o termo "Negro" é a soma da nomenclatura "Pretos", representada por pessoas negras de pele escura, e "Pardos", pessoas negras de pele clara). Por que não existe a mesma representatividade nos cargos de poder ou na elite brasileira? Que racismo é este que existe, porém, ninguém se reconhece como racista?

Djamila Ribeiro nos traz, em seu livro “Pequeno Manual Antirracista”, a reflexão de que esta mazela está entranhada estruturalmente, retratando a exclusão racial e econômica em praticamente todos os espaços de socialização. Isso nos leva a acreditar que “cabelo bom” não pode ser o cabelo crespo; que um homem preto de terno em um shopping só pode ser segurança ou pastor, nunca empresário; que uma mulher negra, ao estar em frente a uma casa elitizada, em um condomínio de alto padrão, precisa ser uma colaboradora em atividade de cuidados para preservação do patrimônio. Por que não pensamos que esta mulher negra pode ser a dona desse imóvel?

Precisamos compreender que aceitar um viés racista em nós é o princípio para modificar uma sociedade adoecida, onde um dado do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) revela que “a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil.” Até quando não iremos nos importar com os corpos pretos tombados no chão? Até quando ter mais de “33 milhões de pessoas sem acesso à água potável” é algo comum? O silêncio e a omissão também são ações. O racismo não é uma luta de brancos contra negros; o racismo é uma luta de todos contra o racismo.

Obrigado por chegar até aqui. Quero convidá-lo a continuar acompanhando este canal, pois iremos conversar muito sobre questões raciais e sociais. Muito obrigado e até a próxima.

Flávio Eduardo Felipe Junior